quarta-feira, 26 de março de 2014

Autopsicografia


 O autor Fernado Pessoua

 
O poeta é um fingidor.

 Finge tão completamente

 Que chega a fingir que é dor

 A dor que deveras sente.

 

E os que lêem o que escreve,

 Na dor lida sentem bem,

 Não as duas que ele teve,

 Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

 Gira, a entreter a razão,

 Esse comboio de corda

 Que se chama coração.

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